Claro que todo o desânimo e ansiedade com que Sílvia começou o dia se dissiparam, e depois daquele acto de amor, invulgar apesar de tudo, ela adormeceu como um anjo encostada ao abraço de Filipe que deu consigo a pensar na jovem que lhe vendera o lenço. Devia estar a sonhar, como podia ele pensar que o que acabara de fazer podia ter sido com aquela jovem e não com a sua mulher? Seria possível que o seu inconsciente pensara nela quando se entregara daquela forma a fazer amor com Sílvia? Esta era uma boa amante, além disso a sua esposa, que mais queria ele? Mas aquela jovem doce e atenta, muito simpática que o atendera naquela loja no final da tarde não lhe saía da cabeça, e foi com estes pensamentos que adormeceu. De manhã quando acordou, Sílvia estava de robe, em pé junto à cómoda, já de banho tomado, com o lenço nas mãos passando-o ao de leve no seu rosto.
- Já acordaste, e já estás de pé? Gostas do lenço que te ofereci?
- Gosto sim, mas muito mais do amor que me deste ontem. Vou querer-te sempre assim, está bem amor? Doce e macio como este lenço que me ofereceste - e rebolou para cima da cama beijando o marido com ternura.
- Sim Sílvia, faremos amor sempre assim como dizes: “amor doce e macio como este lenço de seda” – e beijou-a correspondendo aos seus beijos - mas agora temos que ir trabalhar- e despegando-se dela com carinho, levantou-se de um pulo. Temos todo o tempo do mundo para nos amarmos “docemente” como dizes, mas agora é a hora da labuta.
- Vamos então que remédio. Adoro-te Filipe.
- Também eu, pois não vês? Mas temos uma casa para governar, um filho para criar, alunos e doentes à espera.
- É a vida, e o Miguel já deve estar lá em baixo à minha espera, vamos.
- Olha, não te esqueças que logo saio mais tarde!
E Sílvia franziu o sobrolho, mas que havia de fazer se tinha um marido medico? Naquela noite sentira-o de uma forma diferente, completamente entregue, como se nunca tivessem feito amor ou já não o fizessem há muito tempo. Preocupara-se com ela cada instante, tocara o seu corpo como sempre fazia, mas os seus dedos pareciam escaldantes e mais apaixonados que nunca. Naquela noite ela desprendera-se como sempre, por completo, mas tinha sido muito mais sua que nunca e pressentira o seu marido diferente sem saber porquê, mas pouco lhe importava pois tinha tido com ele uma noite de amor inesquecível. Ele amava-a.
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