- Não deves ralar-te com o que as pessoas possam dizer do teu vestido, ou da casa para onde irás viver. A Celeste trabalha muito bem e se te fizer o vestido de noiva, fá-lo-á muito bem, tenho a certeza, e a tua casa mesmo simples quando a tiveres, será tua e o que precisas é que dentro dela não te falte paz e amor, porque penso que nem tu nem o Carlos são preguiçosos, portanto o pão de cada dia não vos faltará. O que precisas saber é se gostas do Carlos para viveres o resto tua vida e perderes um pedaço dessa tua presunção.
- Estás-me a chamar vaidosa, vaidade não custa dinheiro, cada um toma a que quer, ou não?
- Ai custa, custa, a tua custa que bem vejo, mas isso não vem agora ao caso. Tens é que conversar com o Carlos, entenderem-se um com o outro e teres a certeza se ele é o homem que te convém. Olha que beijos e abraços não sustentam barriga.
- Gosto dele sim mãe, mas ele às vezes bebe realmente um copo a mais. E se isso piorar e eu não o conseguir controlar? Sabes que não sei se sonhei se alguém me disse, que bebe desde pequeno porque o pai em vez da merenda lhe dava vinho, quando o levava para trabalhar.
- Raios, ó rapariga cala-te com esse sonho, e com esses ditos e mexericos, que já me estás a moer os ouvidos com tanta coisa. Pões-me aflita. Olha lá, pergunta-lhe se isso é verdade, e fica tudo esclarecido.
- Vou tentar falar com ele sobre este assunto, mas com cuidado para ele não desconfiar que penso que bebe demais. O Carlos é lindo e eu gosto dele. Sei lá se se vai chatear comigo, por lhe falar desta questão? Uma coisa que eu sei, é que ele é ciumento e desconfiado.
- O que também não é muito bom. Mas hoje não tens mais que fazer, não vais trabalhar? Vá, bebe o café, cala-te e vai-te vestir, senão perdes a camioneta.
Nita trabalhava em casa de uma senhora em Viseu, cujo marido era um médico de renome naquela cidade, e ia e vinha, todos os dias de camioneta para a cidade. Esperava que o marido da senhora, o senhor doutor, um dia lhe arranjasse um emprego nos serviços do posto médico onde trabalhava, como auxiliar fosse do que fosse, por isso nunca abandonaria os serviços daquela casa, além de que gostava muito da senhora.
Nas horas que tinha depois de sair da senhora e depois de chegar à aldeia, ganhava umas horas nesta e naquela casa, nalguma limpeza para que lhe falavam ou então a passar a ferro, o que fazia na perfeição. E desta forma ia ultimamente aos poucos arranjando o seu pé-de-meia.
A mãe de Nita, a Fernanda, levantava-se sempre cedo pois tinha que dar a ração e “lavagem” às galinhas que tinha na capoeira, à porca que tinha no curral e a duas cabritas que tinha presas noutro curral mesmo ao lado, que lhe davam algum dinheiro a ganhar. As galinhas serviam para a alimentação da família, a porca para fazer criação e as cabras também, ainda que de vez em quando, fosse uma festança lá em casa quando fazia a matança de um porco nascido da porca e que ela não vendia e criava para tal, ou de um cabrito que matava para alguma ocasião especial, como era a Páscoa ou o Natal.
Naquela manhã apesar de não ter referido isso à filha, ficou incomodada com a sua enorme preocupação pelo sonho intenso que tinha tido. Como qualquer mãe, não queria nada que a filha se casasse e viesse a ser infeliz. Aquela aflição da filha também a apoquentou.
E se o rapaz fosse mesmo mais pegado ao vinho, que a tudo o resto? Seria isso tudo verdade? Do que conhecia dele tudo lhe parecia possível, mas o que havia de fazer? Era o namorado da filha, estavam fartos de andar juntos e se se largasse a Nita iria ficar falada na aldeia.
Se se pudesse saber o futuro, mas sabia que a filha não podia nunca casar com um doutor, pois era simples e sem estudos, mas se isso acontecesse nada garantia que o seu futuro lhe fosse mais risonho.
A sorte não está na fortuna nem nos títulos, ainda que estes ajudem, mas no trabalho e na honestidade de cada um, e depois tem que se ter saúde, que o resto bem por arrasto. E era assim que a Fernanda, a mãe da Nita, pensava. O rapaz era bonitão e aparentava ser trabalhador e a Nita era muito jeitosa, e também não era preguiçosa, por isso parecia-lhe que estavam bem um para o outro.
Quem seria capaz de prever o futuro?
Raios, aquilo tinha sido um sonho, mais nada. Todos os homens que conhecia na aldeiam bebiam e tinham as suas vidas.
A filha havia de ser feliz com aquele rapaz.
Fotos do Google
A História de uma menina triste, franzina e assustada, que só procurava a paz, amar e ser amada!
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
O casamento da Nita
Ele era meigo e sedutor, e com meia dúzia de beijos e promessas de amor perpétuo, Nita esquecia sempre as pauladas, os encontrões, as negras que ele lhe fazia, e não lhe conseguia resistir, porque nestas ocasiões as suas mãos ficavam mais macias que a seda e conseguiam fazê-la sonhar e imaginar que estava no céu.
Ela pensava sempre que homem que é homem bebe, e portanto se o seu bebia não era nada de tão grave assim, e depois havia ocasiões em que ele até a fazia rir.
E um dia, como já era de prever, uma dessas reconciliações acabou numa cena louca de amor que a deixou grávida. Foi um deus nos acuda para contar à mãe e depois ao pai, aquela situação. Tanto ela como o namorado pensaram e discutiram muito sobre a gravidez, pois o Marques pensava que o melhor era ela fazer um aborto. Mas isso era muito caro, e nenhum deles tinha dinheiro para pagar tal coisa, e além disso proibido e Nita sabia que podia até ir presa se o fizesse e fosse descoberta, pois já o ouvira dizer a alguém.
Nita não conhecia amiga nenhuma que alguma vez o tivesse feito, e não podia chegar ao médico e dizer que não queria aquele filho, só porque era solteira e o namorado também não o queria. Além disso, a ideia de fazer um aborto incomodava-a e dava-lhe medo, por ser algo que bem no fundo desejava não fazer, pois amava o namorado e o que mais queria era casar com ele. E assim um dia o Marques confessou-lhe que queria esse filho e queria casar com ela. Gostava dela e apesar de pobres haviam de sobreviver e de ter ainda mais filhos. Esse dia foi um dos mais felizes dias na vida da rapariga que nunca ouvira o seu namorado falar-lhe daquele jeito.
O que mais assustava Nita era lembrar-se da vergonha e aflição que passaria para dizer ao pai que estava grávida, mas tinha que o fazer. Ela tinha o seu orgulho, sempre com a mania de saber fazer tudo perfeito, meio mandona e autoritária, e como naquela situação falhara, sentia-se comprometida. Mas tinha que o fazer, mesmo que o pai lhe dissesse o que ela não queria ouvir e lhe desse alguma paulada, a não ser que conseguisse convencer a mãe a fazê-lo por ela. Assim, pensando melhor resolveu contar primeiro à mãe que ficou alarmadíssima e ralhou com ela como se o mundo fosse acabar, dizendo-lhe depois de acalmar um pouco:
- Já sabia que de ti não podia esperar outra coisa. Tanto namoro e apertão, tanta saída sei lá eu para onde, não podia dar coisa melhor. Não és a primeira a casar de barriga, e não serás a última, mas o rapaz será que te irá fazer feliz, não vês as cenas que faz quando bebe? Que falta de tino, tu, que tinhas a mania de ser tão esperta olha como te deixaste levar.
- Mas não vês como gosto dele, mãe? É dele que gosto, de mais ninguém. E depois que me importa estar grávida, já estávamos a pensar em casar, sabias, não sabias? Pronto, assim já vai o trabalho feito.
- Tu e as tuas respostas descaradas e sempre na ponta da língua. Anda, vai lá dizer isso ao teu pai e ouve o que ele te diz.
- Ao meu pai dizes-lhe tu. Olha, sabes que mais, podíamos nem lhe contar, tratávamos do casamento, antes da minha barriga crescer e pronto, estava o caso resolvido. Sabes, já tenho andado a comprar umas coisas para o meu enxoval e também não é preciso muito.
- Tu, e as tuas ideias malucas, mas parece que pelo menos, estás a fazer algo acertado, pensando no enxoval, pois bem que te vejo a trazer algumas coisas para casa. O que te posso dar não é muito, pois o dinheiro é escasso e para fazer o casamento à pressa. Acho mesmo que o melhor será casares, que se não for com este será com outro, e se ele te tratar mal não será por não saberes e não teres sido avisada. Pelo menos já sabes o que levas. Vê se o consegues endireitar.
- Sendo assim, não te esqueças de falar ao pai que eu e o Carlos estamos a pensar casar, ouviste? Depois ele passa por aqui e começamos a preparar tudo. E tu, mãe, vais comprar-me também umas coisitas que preciso que o meu dinheiro é curto.
- Tu e as tuas ideias. Julgas que não me preocupa essa tua pressa...
Fotos do Google
Ela pensava sempre que homem que é homem bebe, e portanto se o seu bebia não era nada de tão grave assim, e depois havia ocasiões em que ele até a fazia rir.
E um dia, como já era de prever, uma dessas reconciliações acabou numa cena louca de amor que a deixou grávida. Foi um deus nos acuda para contar à mãe e depois ao pai, aquela situação. Tanto ela como o namorado pensaram e discutiram muito sobre a gravidez, pois o Marques pensava que o melhor era ela fazer um aborto. Mas isso era muito caro, e nenhum deles tinha dinheiro para pagar tal coisa, e além disso proibido e Nita sabia que podia até ir presa se o fizesse e fosse descoberta, pois já o ouvira dizer a alguém.
Nita não conhecia amiga nenhuma que alguma vez o tivesse feito, e não podia chegar ao médico e dizer que não queria aquele filho, só porque era solteira e o namorado também não o queria. Além disso, a ideia de fazer um aborto incomodava-a e dava-lhe medo, por ser algo que bem no fundo desejava não fazer, pois amava o namorado e o que mais queria era casar com ele. E assim um dia o Marques confessou-lhe que queria esse filho e queria casar com ela. Gostava dela e apesar de pobres haviam de sobreviver e de ter ainda mais filhos. Esse dia foi um dos mais felizes dias na vida da rapariga que nunca ouvira o seu namorado falar-lhe daquele jeito.
O que mais assustava Nita era lembrar-se da vergonha e aflição que passaria para dizer ao pai que estava grávida, mas tinha que o fazer. Ela tinha o seu orgulho, sempre com a mania de saber fazer tudo perfeito, meio mandona e autoritária, e como naquela situação falhara, sentia-se comprometida. Mas tinha que o fazer, mesmo que o pai lhe dissesse o que ela não queria ouvir e lhe desse alguma paulada, a não ser que conseguisse convencer a mãe a fazê-lo por ela. Assim, pensando melhor resolveu contar primeiro à mãe que ficou alarmadíssima e ralhou com ela como se o mundo fosse acabar, dizendo-lhe depois de acalmar um pouco:
- Já sabia que de ti não podia esperar outra coisa. Tanto namoro e apertão, tanta saída sei lá eu para onde, não podia dar coisa melhor. Não és a primeira a casar de barriga, e não serás a última, mas o rapaz será que te irá fazer feliz, não vês as cenas que faz quando bebe? Que falta de tino, tu, que tinhas a mania de ser tão esperta olha como te deixaste levar.
- Mas não vês como gosto dele, mãe? É dele que gosto, de mais ninguém. E depois que me importa estar grávida, já estávamos a pensar em casar, sabias, não sabias? Pronto, assim já vai o trabalho feito.
- Tu e as tuas respostas descaradas e sempre na ponta da língua. Anda, vai lá dizer isso ao teu pai e ouve o que ele te diz.
- Ao meu pai dizes-lhe tu. Olha, sabes que mais, podíamos nem lhe contar, tratávamos do casamento, antes da minha barriga crescer e pronto, estava o caso resolvido. Sabes, já tenho andado a comprar umas coisas para o meu enxoval e também não é preciso muito.
- Tu, e as tuas ideias malucas, mas parece que pelo menos, estás a fazer algo acertado, pensando no enxoval, pois bem que te vejo a trazer algumas coisas para casa. O que te posso dar não é muito, pois o dinheiro é escasso e para fazer o casamento à pressa. Acho mesmo que o melhor será casares, que se não for com este será com outro, e se ele te tratar mal não será por não saberes e não teres sido avisada. Pelo menos já sabes o que levas. Vê se o consegues endireitar.
- Sendo assim, não te esqueças de falar ao pai que eu e o Carlos estamos a pensar casar, ouviste? Depois ele passa por aqui e começamos a preparar tudo. E tu, mãe, vais comprar-me também umas coisitas que preciso que o meu dinheiro é curto.
- Tu e as tuas ideias. Julgas que não me preocupa essa tua pressa...
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sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Menino de Ninguém 1
O casamento
Ambas as famílias consideravam que o melhor era casá-los. Naquela altura parecia ser o mais acertado a fazer, para a tranquilidade e felicidade de todos.
A rapariga, bonita e até algo prendada em casa, muito cedo desistira de estudar. Ficara unicamente com a quarta classe, garantido aos pais que não precisava, nem queria saber mais do que suspeitava ser o suficiente para ela. Estudar era uma estopada, e para que havia ela de saber outras coisas, se queria era começar a trabalhar o mais rápido possível para comprar roupas novas, botas, sapatos e carteiras, como via as artistas usarem nas revistas que lia. Aprender mais do que já sabia, o que era manifestamente pouco, e que aos seus olhos era já demasiado, não era o seu objectivo, interessando-se mais pelos bailes, festas e namoricos.
Bastava-lhe para ser feliz o aconchego que tinha em casa, onde era tratada pelos pais como queria, pois conseguia dar-lhes sempre as voltas conseguindo sempre atingir tudo o que desejava pois tinha a mãe sempre do seu lado, vá se lá saber porquê. Não valia de nada as tias dizerem muitas vezes à Fernanda, mãe da Nita, como lhe chamavam todos:
- Ainda vais acabar, por estragar a tua filha. Não há nada que ela não queira que não consiga obter. Nem a deixas perceber como a vida custa é difícil. Prece que vive nas nuvens. Um dia vais arrepender-te e será tarde. Deus queira que a gente se engane…
Mas a mãe da Nita, a Ana para muitos, nunca deixou de ser a sua filha única, uma menina loira de olhos azuis, bem-feita, de contornos arredondados mas perfeitos e com uma maneira de ser muito própria, que Fernanda adorava acima de tudo, e talvez por isso lhe fazia todas as vontades e a protegia de todas as suas acções menos corretas encobrindo-as do pai.
Assim, logo que começou a trabalhar, para senhoras que a contratavam à volta da sua aldeia, indo inclusive de camioneta até Viseu, a cidade mais próxima, onde arranjou trabalho nalgumas casas, aplicava-se com aprumo ao trabalho fazendo tudo com correcção, pois a mãe nesta área, tinha sido para ela uma óptima mestra.
Nita, começou assim muito cedo a ganhar algum dinheiro mas tudo o que ganhava, gastava para se arrumar e enfeitar como entendia, e por mais que a mãe a aconselhasse a guardar algum dinheiro para o seu futuro, pois não era pobre, ela tinha sempre algo mais para comprar. Muito cedo se habituou a não dar muita importância ao dinheiro, a não valorizar a sua importância apesar de ser resultado do seu trabalho. Depois as saídas com as amigas que pensavam como ela, os bailes e festas ou simples saídas até um bar ou café, os namoros com um e com outro faziam-na feliz, e pensava que não precisava de nada mais para ser feliz, até que conheceu aquele rapaz.
Bonito a valer, o Carlos, até era trabalhador afincado, pintor desde miúdo pois aprendera com o pai, mas mais que isso aos olhos de Guida era simpático, de cabelos escuros, encaracolados, alto e vistoso, com os seus olhos negros e pestanas longas que pareciam querer chegar à lua, os lábios carnudos e bem delineados que lhe davam um ar de artista, de galã de televisão, mais parecendo um desses moçoilos capazes de ser modelo de qualquer marca afamada, o que encantava a rapariga.
Mas Carlos, o Marques como os amigos lhe chamavam, tal como ela, a Nita, e todo o ser humano, tinha alguns defeitos e o mais grave de todos era gostar de beber. Ele não tinha conseguido fazer mais que a terceira classe do ensino básico, muito pouco, tendo em conta que vivia nessa altura no início da década 70 onde o analfabetismo em Portugal tinha diminuído bastante e o 6º ano era obrigatório. Mas o Marques tinha que ajudar o pai a pintar nas obras que tinha para acabar. Desde muito pequeno era um mestre. Com um pincel muito fino, contornava ombreiras de portas e janelas com mil cuidados, ou contornava da mesma forma e com igual cuidado e perfeição as paredes de cada divisão a pintar, em toda a volta, e essa era uma ajuda que o pai não dispensava.
O pior é que havia alturas que para matar a fome dos longos dias de trabalho, o miúdo a mandado do pai que fazia o mesmo, enganava o estomago com um copo de vinho, muitas vezes pouco depois seguido de outro e por isso se foi habituando. Para o pai isso não representava mal nenhum, pois se o miúdo tinha fome e ele tinha o vinho que a ele lhe parecia dar força, dava-o a beber também ao Marques que ia bebendo e trabalhando, chegando a casa à noite meio trôpego. Depois de comer algo, deitava-se e dormia sem vontade nenhuma ao acordar no dia seguinte, de sair e ir à escola, pois tinha sempre muito sono e nunca percebia nada de nada do que a professora dizia. E foi assim que o Carlos só fez a 3ª classe.
Mesmo assim a Guida não conseguiu fugir aos seus encantos e beleza, e pouco depois de se conhecerem, da Nita saber que ele era pobre, mas era pintor, o resto não lhe importou, e o namoro de ambos começou e passado algum tempo estava mais que certo daria em casamento.
Nita estava apaixonada, e apesar das cenas contínuas que Marques fazia quando num baile ou noutro bebia mais que a conta, ou até numa simples reunião familiar, quando ele se embriagava à mesa, pois acabava sempre por beber mais que comer, e fazia com que todo o ambiente se voltasse às avessas, transtornado tudo e todos, pis passou na adolescência a ser violento. Nita não queria mais largá-lo mais, apesar de tudo, dizendo sempre que um dia quando casassem ele mudaria, pois quando o Marques voltava a si era o jovem mais apaixonado e ardente que alguma vez Nita tinha conhecido.
Os pais de Carlos estavam convencidos que sim, que o casamento lhe faria bem, e que mais tarde responsável por uma família ganharia juízo e aquele seu hábito de beber abrandaria.
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Ambas as famílias consideravam que o melhor era casá-los. Naquela altura parecia ser o mais acertado a fazer, para a tranquilidade e felicidade de todos.
A rapariga, bonita e até algo prendada em casa, muito cedo desistira de estudar. Ficara unicamente com a quarta classe, garantido aos pais que não precisava, nem queria saber mais do que suspeitava ser o suficiente para ela. Estudar era uma estopada, e para que havia ela de saber outras coisas, se queria era começar a trabalhar o mais rápido possível para comprar roupas novas, botas, sapatos e carteiras, como via as artistas usarem nas revistas que lia. Aprender mais do que já sabia, o que era manifestamente pouco, e que aos seus olhos era já demasiado, não era o seu objectivo, interessando-se mais pelos bailes, festas e namoricos.
Bastava-lhe para ser feliz o aconchego que tinha em casa, onde era tratada pelos pais como queria, pois conseguia dar-lhes sempre as voltas conseguindo sempre atingir tudo o que desejava pois tinha a mãe sempre do seu lado, vá se lá saber porquê. Não valia de nada as tias dizerem muitas vezes à Fernanda, mãe da Nita, como lhe chamavam todos:
- Ainda vais acabar, por estragar a tua filha. Não há nada que ela não queira que não consiga obter. Nem a deixas perceber como a vida custa é difícil. Prece que vive nas nuvens. Um dia vais arrepender-te e será tarde. Deus queira que a gente se engane…
Mas a mãe da Nita, a Ana para muitos, nunca deixou de ser a sua filha única, uma menina loira de olhos azuis, bem-feita, de contornos arredondados mas perfeitos e com uma maneira de ser muito própria, que Fernanda adorava acima de tudo, e talvez por isso lhe fazia todas as vontades e a protegia de todas as suas acções menos corretas encobrindo-as do pai.
Assim, logo que começou a trabalhar, para senhoras que a contratavam à volta da sua aldeia, indo inclusive de camioneta até Viseu, a cidade mais próxima, onde arranjou trabalho nalgumas casas, aplicava-se com aprumo ao trabalho fazendo tudo com correcção, pois a mãe nesta área, tinha sido para ela uma óptima mestra.
Nita, começou assim muito cedo a ganhar algum dinheiro mas tudo o que ganhava, gastava para se arrumar e enfeitar como entendia, e por mais que a mãe a aconselhasse a guardar algum dinheiro para o seu futuro, pois não era pobre, ela tinha sempre algo mais para comprar. Muito cedo se habituou a não dar muita importância ao dinheiro, a não valorizar a sua importância apesar de ser resultado do seu trabalho. Depois as saídas com as amigas que pensavam como ela, os bailes e festas ou simples saídas até um bar ou café, os namoros com um e com outro faziam-na feliz, e pensava que não precisava de nada mais para ser feliz, até que conheceu aquele rapaz.
Bonito a valer, o Carlos, até era trabalhador afincado, pintor desde miúdo pois aprendera com o pai, mas mais que isso aos olhos de Guida era simpático, de cabelos escuros, encaracolados, alto e vistoso, com os seus olhos negros e pestanas longas que pareciam querer chegar à lua, os lábios carnudos e bem delineados que lhe davam um ar de artista, de galã de televisão, mais parecendo um desses moçoilos capazes de ser modelo de qualquer marca afamada, o que encantava a rapariga.
Mas Carlos, o Marques como os amigos lhe chamavam, tal como ela, a Nita, e todo o ser humano, tinha alguns defeitos e o mais grave de todos era gostar de beber. Ele não tinha conseguido fazer mais que a terceira classe do ensino básico, muito pouco, tendo em conta que vivia nessa altura no início da década 70 onde o analfabetismo em Portugal tinha diminuído bastante e o 6º ano era obrigatório. Mas o Marques tinha que ajudar o pai a pintar nas obras que tinha para acabar. Desde muito pequeno era um mestre. Com um pincel muito fino, contornava ombreiras de portas e janelas com mil cuidados, ou contornava da mesma forma e com igual cuidado e perfeição as paredes de cada divisão a pintar, em toda a volta, e essa era uma ajuda que o pai não dispensava.
O pior é que havia alturas que para matar a fome dos longos dias de trabalho, o miúdo a mandado do pai que fazia o mesmo, enganava o estomago com um copo de vinho, muitas vezes pouco depois seguido de outro e por isso se foi habituando. Para o pai isso não representava mal nenhum, pois se o miúdo tinha fome e ele tinha o vinho que a ele lhe parecia dar força, dava-o a beber também ao Marques que ia bebendo e trabalhando, chegando a casa à noite meio trôpego. Depois de comer algo, deitava-se e dormia sem vontade nenhuma ao acordar no dia seguinte, de sair e ir à escola, pois tinha sempre muito sono e nunca percebia nada de nada do que a professora dizia. E foi assim que o Carlos só fez a 3ª classe.
Mesmo assim a Guida não conseguiu fugir aos seus encantos e beleza, e pouco depois de se conhecerem, da Nita saber que ele era pobre, mas era pintor, o resto não lhe importou, e o namoro de ambos começou e passado algum tempo estava mais que certo daria em casamento.
Nita estava apaixonada, e apesar das cenas contínuas que Marques fazia quando num baile ou noutro bebia mais que a conta, ou até numa simples reunião familiar, quando ele se embriagava à mesa, pois acabava sempre por beber mais que comer, e fazia com que todo o ambiente se voltasse às avessas, transtornado tudo e todos, pis passou na adolescência a ser violento. Nita não queria mais largá-lo mais, apesar de tudo, dizendo sempre que um dia quando casassem ele mudaria, pois quando o Marques voltava a si era o jovem mais apaixonado e ardente que alguma vez Nita tinha conhecido.
Os pais de Carlos estavam convencidos que sim, que o casamento lhe faria bem, e que mais tarde responsável por uma família ganharia juízo e aquele seu hábito de beber abrandaria.
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terça-feira, 1 de novembro de 2011
O inicio de uma vida
Quando Isabel e Pedro chegaram àquela aldeia, não conheciam ninguém, como ninguém os conhecia a eles. Levavam consigo uma mala com alguma roupa, pouca, e o coração cheio de esperança de conseguir concretizar muitos sonhos. A casa que os esperava, muito pequena, com uma minúscula janela que dava para a rua principal, tinha sido arranjada anteriormente pelos pais dela e enfeitada por ela, com o indispensável para os dois se sentirem no mínimo confortáveis.
Uma divisão muito simples, a que chamaram quarto, com o mobiliário que conseguiram adquirir, bem diferente daquele que Isabel idealizara, mas com o suficiente para conseguirem começar uma vida juntos, seria o seu refúgio de amor. Nas paredes uns cortinados brancos, ocultavam um pouco a rudeza das paredes, dando ao quarto, um ar mais nobre e aconchegado, o mesmo encanto com que procurava enfeitar os seus dias. Deste passava-se para a cozinha, onde uma mesa redonda, feita pelo avô Francisco, tinha lugar de honra, rodeada por quatro cadeiras, que ficariam para a história, compradas a propósito. No início, na sala só havia no espaço que parecia amplo, a tábua de passar a roupa.
Nem sofás, nem cadeiras, nem mesa, nem móvel, nem nada para lá colocarem, além deles próprios, que muitas vezes se rebolaram e menearam nesse chão, fazendo dele seu enxergão, e nele se amaram, enrolando-se sem cansaço, contando-lhe mil e um segredos, nesse tempo em que Isabel e Pedro, como todos os jovens amantes e enamorados, idealizavam que o amanhã será sempre como aquele instante, risonho e fácil.
Uma casa de banho, onde a água caía do chuveiro, liberta como do céu, podendo molhar-se à vontade as paredes e o chão, escorrendo depois livre para a rua. Mais adiante a porta de saída para o quintal, com um pequeno e minúsculo canteiro de flores. Junto à porta, um tanque onde Isabel lavaria a roupa à mão.
Tudo feito a propósito para os noivos viverem bem, e não se sentirem mal acomodados, porque tudo, era manifestamente pouco, ainda que para início de vida, a Isabel, tudo parecesse muito e grandioso. Ali, naquela casa, começava a sua vida com Pedro, uma vida que ela aspirava ser de liberdade, de muito amor, paz e muita felicidade. Ao princípio, ali, Isabel quase se sentiu uma rainha, e digo sentiu, porque mais tarde me confessou, que passados uns tempos começou a aspirar ter uma casa maior, com mais algum conforto, um melhor quarto, com uma janela que pudesse abrir e lhe permitisse arejar a casa e todo o lar. ~
Uma porta que desse para a rua, mesmo que não tivesse sala de entrada, por onde pudesse entrar e sair quando quisesse, já que a entrada desta sua pequena casa, era feita pelo quintal das traseiras.
Este tanque de lavar a roupa, trazia-lhe à mente recordações menos agradáveis da infância. A mãe passava o dia de volta da roupa da família, e também ela ali, tinha que lavar toda a roupa, atá aos tapetes do chão, o que não a incomodava, porque tinha a esperança de um dia mudar, mas que a arrastava e puxava a ficar presa ao passado com pensamentos contínuos que não a largavam. ~
Que sonho tão simples era o de Isabel, o de um dia sacudir o pano de limpar o pó da casa, numa janela frondosa, porque nesta altura ainda não lhe passava pela cabeça a ideia de comprar uma máquina de lavar roupa, engenho muito dispendioso.
Era uma casa interior, muito pequena, junto ao local de trabalho de Isabel, uma casa daquelas onde o Sol nunca entra, nem pede para penetrar, e para ele se poder olhar, tem que se vir à rua, onde é de todos e não vive a paredes meias com ninguém, nem pede licença para entrar.
Isabel pretendia inúmeras coisas, e a primeira de todas era poder conviver com o Sol, vê-lo todos os dias a sorrir-lhe, e umas atrás das outras, as realidades que naquela altura não conseguia alcançar, poder um dia segurá-las nas suas mãos.
Fotos do Google
Uma divisão muito simples, a que chamaram quarto, com o mobiliário que conseguiram adquirir, bem diferente daquele que Isabel idealizara, mas com o suficiente para conseguirem começar uma vida juntos, seria o seu refúgio de amor. Nas paredes uns cortinados brancos, ocultavam um pouco a rudeza das paredes, dando ao quarto, um ar mais nobre e aconchegado, o mesmo encanto com que procurava enfeitar os seus dias. Deste passava-se para a cozinha, onde uma mesa redonda, feita pelo avô Francisco, tinha lugar de honra, rodeada por quatro cadeiras, que ficariam para a história, compradas a propósito. No início, na sala só havia no espaço que parecia amplo, a tábua de passar a roupa.
Nem sofás, nem cadeiras, nem mesa, nem móvel, nem nada para lá colocarem, além deles próprios, que muitas vezes se rebolaram e menearam nesse chão, fazendo dele seu enxergão, e nele se amaram, enrolando-se sem cansaço, contando-lhe mil e um segredos, nesse tempo em que Isabel e Pedro, como todos os jovens amantes e enamorados, idealizavam que o amanhã será sempre como aquele instante, risonho e fácil.
Uma casa de banho, onde a água caía do chuveiro, liberta como do céu, podendo molhar-se à vontade as paredes e o chão, escorrendo depois livre para a rua. Mais adiante a porta de saída para o quintal, com um pequeno e minúsculo canteiro de flores. Junto à porta, um tanque onde Isabel lavaria a roupa à mão.
Tudo feito a propósito para os noivos viverem bem, e não se sentirem mal acomodados, porque tudo, era manifestamente pouco, ainda que para início de vida, a Isabel, tudo parecesse muito e grandioso. Ali, naquela casa, começava a sua vida com Pedro, uma vida que ela aspirava ser de liberdade, de muito amor, paz e muita felicidade. Ao princípio, ali, Isabel quase se sentiu uma rainha, e digo sentiu, porque mais tarde me confessou, que passados uns tempos começou a aspirar ter uma casa maior, com mais algum conforto, um melhor quarto, com uma janela que pudesse abrir e lhe permitisse arejar a casa e todo o lar. ~
Uma porta que desse para a rua, mesmo que não tivesse sala de entrada, por onde pudesse entrar e sair quando quisesse, já que a entrada desta sua pequena casa, era feita pelo quintal das traseiras.
Este tanque de lavar a roupa, trazia-lhe à mente recordações menos agradáveis da infância. A mãe passava o dia de volta da roupa da família, e também ela ali, tinha que lavar toda a roupa, atá aos tapetes do chão, o que não a incomodava, porque tinha a esperança de um dia mudar, mas que a arrastava e puxava a ficar presa ao passado com pensamentos contínuos que não a largavam. ~
Que sonho tão simples era o de Isabel, o de um dia sacudir o pano de limpar o pó da casa, numa janela frondosa, porque nesta altura ainda não lhe passava pela cabeça a ideia de comprar uma máquina de lavar roupa, engenho muito dispendioso.
Era uma casa interior, muito pequena, junto ao local de trabalho de Isabel, uma casa daquelas onde o Sol nunca entra, nem pede para penetrar, e para ele se poder olhar, tem que se vir à rua, onde é de todos e não vive a paredes meias com ninguém, nem pede licença para entrar.
Isabel pretendia inúmeras coisas, e a primeira de todas era poder conviver com o Sol, vê-lo todos os dias a sorrir-lhe, e umas atrás das outras, as realidades que naquela altura não conseguia alcançar, poder um dia segurá-las nas suas mãos.
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