terça-feira, 26 de julho de 2011

MÃE

         CONFIDÊNCIAS

                            Mãe! Vem ouvir...

         Mãe!
         Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
         Traze tinta encarnada para escrever estas coisa! Tinta cor de sangue,
         sangue verdadeiro, encarnado!
         Mãe, passa a tua mão pela minha cabeça!
         Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de
         viagens! Eu vou viajar.  Tenho sede! Eu prometo saber viajar!

         Quando voltar é para subir os degraus da tua asa, um por um. Eu
         vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me
         a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que
         eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as
         mesmas palavras.

         Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
         Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também
         quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

         Mãe!   passa a tua mão pela minha cabeça!
         Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!



       De ALMADA NEGREIROS



Sem comentários: