terça-feira, 29 de maio de 2012

Pia morre!

CARTAS de amor!

Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são 
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

           Álvaro de Campos

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Será que a felicidade existe!


                               
                                 Quando me julgo feliz não sei o que pensar,
                                 nem sei se o que sinto é isso a que chamam felicidade.
                                 Mas é bom, doce no sabor que tem,
                                 meigo no afago dos sentidos.
                                 São instantes que me confundem de alegria interior,
                                 mágicos de beleza,
                                 que me enchem de sensações que desconheço,
                                 e me fazem sentir bem,
                                 me fazem subir no espaço e sorrir.
                                 Respirar com calma, desbloquear a mente,
                                 olhar o mundo sem medo e sem cansaço,

                                 me levam a acreditar
                                 ainda que só por momentos, nesses momentos,
                                 que tudo é possível.
                                 E nesses momentos eu acredito nela
                                 e sei que ser Feliz é possível ainda que por instantes.

                                 Por ela paro, bloqueio, fico lerda e tudo aceito,
                                 pois sinto que esses momentos que vivo são diferentes,
                                 puros, verdadeiros e me fazem bem...
                                 Mas não os prendo...., não posso, não consigo,
                                 e desaparecem...
                                 Pena que fujam, voem para algures sem deixar rasto,
                                 e demorem a voltar...Mas é sempre assim!
                                 Regressam só de quando em vez,
                                 sempre, absolutamente sempre sem se fazer anunciar.
                             
                                 Preciso viver cada instante, não renunciar a nada,
                                 para não  fazer má vizinhança....,
                                 a essa que chamam felicidade
                                 Ela mora algures no espaço,
                                 existe decerto no mundo em cada gesto,
                                 e pode estar presente em cada canto...
                                 Ou  será que não existe, .
                                 Será mesmo que a felicidade existe?

     Fotos do Google

A felicidade existe!





  A fonte mais importante da infelicidade consiste na


 ilusão de encontrar a vida 


 renunciando a Deus, de conquistar a liberdade


 excluindo as verdades morais e a 


 responsabilidade pessoal.


 (João Paulo II, Homilia aos jovens a 28-7-2002)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Cartas de amor!

Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são 
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

           Álvaro de Campos

Um infinito cansaço!!!

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

                      Álvaro de Campos

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Queria ser uma menina Feliz !


     Se eu pudesse queria ser sempre menina,
     Usar bibe, ir à escola de sacola,
     Ter trabalhos de casa para fazer.
     Ter colegas de carteira,
     amigos sinceros, verdadeiros.
     Brincar no baloiço, e andar de bicicleta.
     Pular, brincar à malha, às escondidas,
     jogar à bola e brincar atarefada com muitas bonecas.
     Fazer de médica, de professora ou cozinheira,
     fazer de qualquer coisa tanto faz,
     mas andar de sapatinhos,
     calçar sempre peúgas e usar umas trancinhas muito bem feitas.
     Nas horas vagas aprender música,
     ballet e talvez inglês.
     Ser uma menina prendada, inteligente.
     De pele macia, acetinada mas um pouco corada.
     E ler muito correcto o português.
     Ser uma menina feliz,
     uma menina contente, sem medos nem receios.
     Alegre e risonha,
     Simpática, com o colo da mãe sempre constante
     e a atenção do pai sempre presente,
     correr para um ou para o outro indiferentemente satisfeita.
     Queria ser sempre menina e não ter medo do escuro,
     dos gritos, das vozes altas, alteradas,
     da tez pálida do pai que furioso ralha sem ela saber porquê.
     Queria ser menina agora e sempre,
     ou então só mais uma  vez
      por um segundo apenas,
      e tentar ser feliz
      mesmo que fosse só nesse momento.


 Fotos do Google

Solidão..ou não??


Foi-se o sol e a chuva não pára de cair.
Metida no meu canto só sinto frio e uma dor imensa de não ter e não saber o que fazer há muito tempo. 
Penso até que já não sei amar como antigamente. Mas o amor não muda, cresce e aumenta no nosso coração e preso a esse amor quase rebento.
Queria dormir eternamente e não ter que sentir a ausência dos que julgo amar, de tudo o que perdi, se na verdade perdi, pois não se perde o que nunca se teve.
Mas e a mim, será que alguém me amou? 
Será que alguém me quer ainda?
Não sinto esse amor, não sinto que alguém me queira. Sei mesmo que nunca ninguém me quis, não como sonhei um dia ser querida.
O vazio que vive dentro de mim corrói-me até à mente, e eu morro aos poucos mas não me importo.


Este meu ser e pensar põe-me oca, vazia, despida de vontades e desejos, e eu deixo.
Não sinto mais nada, não quero mais nada. 
Só quero ficar aqui e não me perguntem nada.
Só o silêncio me habita, e esse quero-o comigo porque só ele me entende.


Deixem-me ficar assim parada, quieta, emudecida, que assim parece-me que sou mais gente.
Que falta me faz a ausência do amor que nunca tive e nunca senti nem sinto. 
Apenas apoio amigo, mas isso é pouco.
Que falta me fez sempre sentir o meu corpo vibrar de emoção colado ao teu e eu por sentir o teu perto de meu, partir contigo em longas e intermináveis viagens. 
Mas não se perde o que nunca se teve e não se tem.
O teu corpo fugiu-me sempre e o meu afogou-se muito cedo na sede do desejo que tinha de te querer. 
Partiu de mim essa vontade ardente de te querer, de te sentir, e eu deixei-a ir. Desisti de sonhar.
Perdeu-se, abalou de mim e nunca mais a procurei encontrar.

Estou sedenta, mas não tenho nada que mate a minha sede. A fonte de água pura há muito que secou e não recordo ter bebido dela. Morro de sede.
Para quê beber agora água inquinada se me faz mal, se me dá mais sede ainda? 
Prefiro morrer de sede.
Sim, prefiro morrer de sede que inundar a minha alma na dor que me causa a água que me dás, que me destrói de mansinho e me seca ainda mais o corpo e a alma.
Mas faz-me tanta falta o teu amor, o teu carinho, aquele que sonhei e não logrei. Sinto tanta falta do que nunca tive.
Não sei como viver assim, perdida, num fazer de conta constante que me arrasa e destrói.
Por isso permaneço no meu canto. 
Sem ver, sem sentir, sem desejar, quase sem viver, dizendo sim a tudo, 
vou andando devagar, pois assim tudo me parece mais fácil neste meu entardecer.

 Fotos do Google