CONFIDÊNCIAS
Mãe! Vem ouvir...
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisa! Tinta cor de sangue,
sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe, passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de
viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar!
Quando voltar é para subir os degraus da tua asa, um por um. Eu
vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me
a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que
eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as
mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também
quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!